Pessoas motivadas e reconhecidas fazem toda a diferença

Por Guilherme Coelho 

Publicado em 22 de dezembro de 2020 no jornal O Globo

Em 1986, a banda Legião Urbana lançou o álbum “Dois”. Na música “Metrópole”, crônica de um acidente de trânsito e de uma sociedade em transe, somos flagrados sem um sistema de saúde pública. “Sem carteirinha não tem atendimento/ Carteira de trabalho assinada, sim, senhor!”, diz a letra.

Desde a Constituição de 1988 o Brasil constrói o SUS, universalizando-o, dando-lhe alcance, e também camadas, abrangência. A educação básica no Brasil é 83% pública, e mais de 75% da população não têm plano de saúde. Governos importam. Qualidade de vida é feita de governos de qualidade. O nosso IDH mostra que é aí que a banda toca.

Então, a quem devemos celebrar na esfera pública brasileira neste insólito ano de 2020? Quem foi nosso Anthony Fauci ou nossa Angela Merkel? Nosso médico chinês que alertou o mundo para a Covid, foi perseguido e acabou falecendo da doença?

Em seu terceiro ano, o Prêmio Espírito Público traz algumas respostas ao reconhecer a excelência de quem trabalha em governos pelo Brasil. Os 18 vencedores, entre 12 milhões de funcionários públicos, merecem nosso aplauso pela dedicação, aptidão técnica, visão de longo prazo e o impacto em nossas vidas. Em reconhecimento a respostas à Covid-19, também foram entregues Medalhas Espírito Público.

As biografias dos vencedores nos permitem vislumbrar um país plural, de gente que acredita em soluções “a muitas mãos”, que coordena “mil professores e 12 mil alunos”, gestores que pedem “investimento sistemático no desenvolvimento de líderes”, que já ganharam prêmios de inovação, e até uma doutora em Sociologia que adora amendoim cozido.

São profissionais que acreditam na “transformação digital do Estado” para uma relação mais responsiva entre servidores e cidadãos, que acreditam na escuta, incorporam perspectivas na melhoria dos serviços, implementam tecnologia e inovação em governos. Pessoas trabalhando com “tecnologias sociais hídricas que vêm transformando vidas no Semiárido”, com regularização fundiária, com “mudança das condições de moradia nas áreas periféricas” das cidades, “integrando comunidade e meio ambiente”. Profissionais de saúde que ajudam famílias no acompanhamento de doentes, que “acrescentam vida aos dias que restam”.

São psicólogas em serviços penitenciários, policiais na prevenção de crimes, cientistas criando ferramentas para identificação de arquivos de computador que contenham abusos de crianças. Gente que “sabe que seu trabalho tem impacto direto na vida das pessoas”, que acredita nos “sonhos como ponto de partida para grandes realizações” e no “trabalho em equipe” para fazer acontecer.

Governos importam, e eles são feitos por gente. Pessoas motivadas e reconhecidas fazem toda a diferença. Parabéns aos profissionais que ganharam o Prêmio Espírito Público. Vocês são inspiração — e esperança — para todos nós. Muito obrigado.

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