Por Guilherme Coelho
Publicado em 01 de novembro de 2022 no jornal O Globo
Brasil, outubro de 2022: limbo. Ou pior, purgatório. Outubro, com gosto de agosto; desgosto — pra todo mundo.
Mas acabou. (Mãe, eu te amo).
Agora é cuidar do futuro, e fazê-lo juntos. O Brasil precisa de uma transição presidencial bem planejada e transparente. Há bons exemplos internacionais para se copiar, de instituições como a escola de administração pública Hertie School, da Alemanha, e o Center for Presidential Transition, da Partnership for Public Service, instituto independente de apoio ao serviço público de excelência, dos EUA.
Tudo parecerá prioridade, e a pauta econômica deve ser pensada imediatamente. Uma urgência será cobrir os R$ 181 bilhões que faltam ao orçamento de 2023, segundo as contas de Rodrigo Orair e Manoel Pires.
Ainda na economia, a maior oportunidade será uma discussão até o final do ano sobre racionalização tributária. Esta será a maior alavanca para o nosso crescimento econômico.
Desde já seria ótimo haver conversas entre a Fundação Perseu Abramo, responsável pelo programa do próximo governo, e FIESP, FIRJAN, FIEMG; envolvendo instituições especializadas como o Observatório de Política Fiscal e o Centro de Cidadania Fiscal; e acadêmicos do Centro de Estudos da Metrópole (USP), e MADE (USP), entre outros. Além de fundações, como a Samambaia Filantropias, que apoia estudos sobre crescimento, a partir de uma melhor política fiscal.
Temos que entrar em 2023 com uma frente ampla no Congresso, reunindo o que melhor se amadureceu sobre o Imposto de Valor Agregado (IVA), aliando-o ao fim da regressividade dos impostos e isenções fiscais hoje concedidas.
Em 2022, atingimos um recorde em isenções, com mais de R$ 450 bilhões anuais. Sabe-se que, no agregado, têm um caráter regressivo, privilegiando os mais ricos. É preciso falar sobre isso.
Num momento em que a economia mundial será, por necessidade, cada vez mais regenerativa e redistributiva, o Brasil vai se dar bem ao reduzir desigualdade de renda para gerar melhor e maior crescimento econômico.
Um outro tema para uma transição presidencial — e central a ela — será pensar o centro de governo do Executivo Federal. E colocar no centro desta discussão uma melhor organização das pessoas que trabalham pelo Estado — por nós. Aqui há ótimos especialistas que poderão contribuir significativamente — muitos deles estão reunidos no Movimento Pessoas à Frente.
Além de crescer com melhor redistribuição de renda, o Brasil precisa transformar o Estado, para que seja mais efetivo, responsivo e competente.
Outro tema para uma transição a um futuro melhor é o meio ambiente. Projetos da sociedade civil, como o Uma Concertação pela Amazônia e o Amazônia 2030, serão valiosos. Aqui o Brasil tem a obrigação de nadar de braçada, assumindo um papel de liderança no mundo, construindo boa fé e atraindo investimentos a perder de vista.
Pois o Brasil é verde. Um país cheio de natureza, com 49% do nosso território sendo bioma amazônico. De Marcel Gautherot a Claudia Andujar, a Sebastião Salgado, “tá aí o filme” como diz o Racionais MCs.
E o verde vai valer uma fortuna. Tecnologias verdes; produtos com baixa pegada de carbono; e também florestas em pé — e com elas, um grande ativo brasileiro: a biodiversidade. Que já está na boca do mercado financeiro, como antecipado pelo ex-secretário de tesouro dos EUA, e ex-Goldman Sachs, Hank Paulson. Deu no New York Times, em setembro de 2021. Vai dar Brasil.
Sorte pra nós. Ou como meu filho me fala, também citando o Racionais, “tá tudo aí pra nós, é só saber chegar.”
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